29 de outubro de 2015

Rationnel...

(Rio de Janeiro / Brasil )

As pessoas são tão preconceituosas que associam a banda RACIONAIS MC'S  a marginalidade e acabam considerando as músicas ruins por conta da melodia e toda carga negativa ligada ao nome e a fama, não compreendo como o RAP brasileiro é tão estigmatizado, aqui não se pode fazer canções que relatem a realidade que soam como apologia ao crime, se os cantores forem da favela eles estarão fadados a fazer shows em guetos e serem discriminados inicialmente e se não apoiados por ninguém viverão da música como hobby, apenas como sua liberdade de expressão, pois o comércio da música não quer saber do que acontece na favela, quem não vive numa comunidade ignora tudo isso, ninguém vai cantar uma música que fala do racismo, que retrate as prisões, sejam elas físicas ou sociais, pois estar livre na linha da pobreza e morando num barraco, sem perspectiva, sem oportunidade é tão ruim quanto estar trancado nas gaiolas do mundo.
Admito que muitas canções falam de experiências criminosas, o vocalista já se envolveu e é conhecido por seu comportamento, mas se for buscar referências da banda, vale ressaltar que o trabalho desenvolvido nas periferias, a quantidade de jovens que a música passa uma mensagem, penso que a sociedade é elitista demais ao ponto de não saber detectar talentos, não saber tirar desse gênero o melhor, o positivo, o diferencial, eu conheço o trabalho deles faz alguns anos já, uma amiga cantava e um dia resolvi ouvir , receber e captar melhor, fiquei tão surpresa com a capacidade de escrever coisas boas apesar de tudo, a capacidade de enxergar além, de ser crítico e transformar isso em música, embora uma batida simples com poucos arranjos, admiro as pessoas que escrevem e deixam pra humanidade uma herança de pensamentos, essa é a riqueza, isso é o que fica, enquanto tem tanta coisa aí invadindo as rádios de forma insuportável, o ruim no BRASIL parece bom, não importa o que diga, se um artista consegue chegar na mídia ele vai fazer sucesso e virar uma febre para depois ser esquecido completamente. 
Passei o dia inteiro cantarolando na cabeça a música " JESUS CHOROU ", uma das que mais gosto, não tenho vergonha alguma de curtir esses caras, teria vergonha de engolir uma banda sem talento e sem percepção, que não acrescenta ou me leva a reflexão.

Me diga se não é poesia um trecho como esse :

" O que é, o que é?
Clara e salgada
Cabe em um olho e pesa uma tonelada
Tem sabor de mar
Pode ser discreta
Inquilina da dor
Morada predileta
Na calada ela vem
Refém da vingança
Irmã do desespero
Rival da esperança
Pode ser causada por vermes e mundanas
E o espinho da flor
Cruel que você ama..."

Na mesma canção encontramos esse trecho:

" Porra, vagabundo óh
Vou te falar, tô chapando
Eita mundo bom de acabar
O que fazer quando a fortaleza tremeu
E quase tudo ao seu redor
Melhor, se corrompeu
"- Epa, pera lá, muita calma, ladrão
Cadê o espírito imortal do Capão?
Lave o rosto nas águas sagradas da pia
Nada como um dia após o outro dia..."


     Há uma discrepância nos dois trechos, mas as músicas são longas e na maioria das vezes  acontece isso, pode falar de amor e depois de amizade, de lealdade , de desigualdade, conter palavrões, mas a realidade brasileira é essa. não é cor de rosa. Viajei ao Rio de Janeiro e infelizmente não vi de tão perto as sub-cidades, o subúrbio e todo o contexto periférico que tinha em mente conhecer, sei que é perigoso e " barra pesada", mas eu quero subir lá e observar o que há de bom, dialogar com aquelas pessoas, ouvir suas histórias, em Fortaleza pude conhecer as periferias, elas não são tão separadas e isoladas, elas estão por toda parte, posso passar em qualquer uma em um percurso de ônibus, posso visitar um amigo, óbvio que não queremos ser vítima da marginalidade, mas isso me interessa, isso me diz respeito, isso me afeta e não posso ser alheia a tudo isso, faz parte da cidade em que nasci.
   Torço todos os dias que a educação consiga chegar nesses locais como uma ferramenta de esperança , que os seres humanos sejam enfim enxergados, não falo do governo dar benefícios para deixá-los em casa achando que aquilo dá pra sobreviver, desejo que eles recebam esse dinheiro investido no coletivo, na valorização intelectual de todos, que haja um estímulo real e que traga resultados eficazes na luta de erradicação da pobreza, preciso nem falar que discordo das políticas atuais e de toda essa bagunça que se tornaram os plenários, existe nesse mundo um conflito de prioridades e interesses, parece impossível trabalhar o social, ser progressista .       
    Queria deixar aqui minha observação, já que curtir RAP internacional estrangeiro falando de dinheiro, mulheres, carros,  é mais bacaninha que ouvir música de morro, embora também seja feito aqui o mesmo, o de fora sempre vai ser mais massa, entendo que a estrutura que eles tem seja admirável, mas quero salientar que culturalmente não nos falta, que nossa grama pode ser mais verde.
Mano , quem não gostou do post, se reclamar vou postar sobre Facção Central também. rsrs


Beijos favelados, beijos negros, beijos reais. 

  

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